Reflectindo um pouco, é fácil
verificar que o Regionalismo colectivo não nasceu por uma questão de simples
snobismo do povo, mas sim por uma ânsia de renascimento, de necessidades
latentes. Por isso, tanto maior será esse bairrismo ou Regionalismo quanto mais
grave for o atraso. (in «Correio da Serra» de 15/10/71)
A
União, ao contrário do que alguns pensam, não nasceu por geração espontânea. Os
exemplos das agremiações que a antecederam e um posterior trabalho em
profundidade de uns quantos conterrâneos no sentido da mobilização de
colmealenses, da conjugação de ideias e finalidades comuns, da ambição natural
de melhores condições sociais e culturais, estiveram, entre outras, na origem
da União Progressiva da Freguesia do Colmeal.
Legalmente
fundada «a colectividade mãe do regionalismo colmealense – e reconhecidos os
seus méritos, logo outros naturais da freguesia se aperceberam da vantagem de
se unirem para a resolução de problemas nas suas terras». (in «O Colmeal» nº
112, pág. 12).
Assim,
directa ou indirectamente, a União também esteve na origem da criação das
restantes colectividades da nossa freguesia: Ádela (1936); Malhada e Casais
(1953); Soito (1954); Aldeia Velha e Casais (1964) e Carvalhal (1970).
Neste
aspecto, como em muitos outros, a União Progressiva da Freguesia do Colmeal
prestou um serviço inestimável à nossa freguesia.
Concebeu
ou materializou na freguesia alguns abastecimentos de água em substituição da
«chafurdo». Noutro sector e nos casos concretos de Aldeia Velha e Casais, tal
como o Soito (anos mais tarde) se ficaram mais perto do «progresso dos
progressos» e o Carvalhal, bastante cedo, deixou de estar isolado do resto do
mundo, foi por iniciativa e acção profícua da União. Também quando da execução
da estrada para a Malhada, por Soito, a nossa agremiação mais representativa
prestou a melhor colaboração moral e material, como durante muitos anos se
bateu pela sua execução. Igual colaboração verificou-se quando dos
levantamentos topográficos que estiveram na origem da electrificação das
aldeias colmealenses. Além do mais alguns desses levantamentos foram
graciosamente elaborados por colmealenses dirigentes da União Progressiva da
Freguesia do Colmeal.
Não
menos importante será lembrar que a ideia da estrada Celavisa ao Colmeal, por
Sobral, construída pelos Serviços Florestais, germinou em 1935 no seio da
União. Também a futura, indispensável e provável ligação rodoviária do Soito a
terras de Fajão nasceu em reuniões directivas da nossa cinquentenária
agremiação.
Não
se pode esquecer, também, que dirigentes da União estiveram sempre na primeira
linha, para que o estradão florestal Colmeal a Ádela fosse incluído em plano e
executado.
O
regionalismo pela sua influência na mobilização, mentalização e valorização dos
povos acabou inesperadamente e incompreensivelmente por originar certos
«ciúmes» em algumas autarquias, autarcas e mesmo Governos Civis que por vezes
muito prometiam e nada faziam e, inclusivamente, desconheciam os povos que «representavam».
Por esses ciúmes ou seu derivado afirmou em 1961, em Coimbra, o então Ministro
das Obras Públicas, a propósito das agremiações regionalistas: «O principal,
muito sério e até de ordem política, resultava do facto de, normalmente, essas
Comissões colocarem em má posição a administração local». Da afirmação do então
Ministro ao Decreto-Lei 2 108 que retirava às «Comissões de Melhoramentos» a
possibilidade de em novas obras serem comparticipadas pelo Estado, pouco tempo
se passou. Inclusivamente, quando da aprovação de estatutos para novas
agremiações, deixou de ser permitido tanto no título como nos fins a palavra
«melhoramentos».
A
União, por intermédio de alguns dos seus dirigentes, denunciou, a partir de
Março de 1971, tal Decreto de baixa e retrógrada política e sensibilizou a
Presidência da Câmara de Góis, à frente da qual se encontrava goiense honesto
e, simultaneamente, conhecedor dos problemas concelhios e das limitações da
edilidade, no sentido de pressionar o poder político para o retrocesso da
referida Lei. As «Comissões de Melhoramentos» nunca poderiam colocar «em má
posição a administração local» porque esta não possuía autonomia económica, nem
maquinismos, nem meios humanos para fomentar o progresso das aldeias. As
Câmaras, no máximo, colaboravam moralmente, o que já era alguma coisa, porque
mais não podiam fazer. A aplicação de tal decreto era, na época, um retrocesso
para a região serrana da Comarca de Arganil.
Finalmente
em Junho de 1971, a presidência da Câmara Municipal de Góis enviou exposição
aos poderes públicos. Numa passagem dessa lúcida e clara exposição lê-se: «Por
intermédio dessas Comissões, cuja existência e trabalho se destinam
exclusivamente a melhorar, a beneficiar, a prestigiar e a engrandecer as suas
terras, tem sido possível levar a efeito um elevado número de obras e
melhoramentos por elas estudados, sugeridos, planeados, financiados e
executados, por vezes através das maiores dificuldades mas sempre com inegável
dedicação e fé».
Neste
aspecto os regionalistas do Colmeal prestaram directa e indirectamente um
serviço à freguesia e á causa regionalista em geral. Os regionalistas
colmealenses lutaram, quando outros em melhores condições se acomodaram.
Desde
1973 a União Progressiva da Freguesia do Colmeal, por comparticipação pública,
calcetou os arruamentos em Colmeal (1ª fase); vem pugnando pela concretização
da fase seguinte; e a expensas suas mandou executar vários muros de resguardo
na povoação do Colmeal; mesas e bancos nas Seladas, embora e ainda por acabar; regularização
de uma rua e construção do respectivo muro de resguardo no Açor; generosamente
distribuiu 120 contos pelas congéneres da freguesia e ultimamente adquiriu o
terreno denominado «Cova» para um possível parque polivalente.
Embora
não sendo fácil nem provável, ao contrário do que se verifica com as ervas
daninhas, destruir ou no mínimo mutilar o título da União Progressiva da
Freguesia do Colmeal, quem o quiser tentar ou tiver essa coragem, terá primeiro
que tudo, de destruir a sua obra e o seu historial.
Através
da história da União sempre foi apanágio dos mais velhos a inclusão de
indivíduos mais novos nos corpos directivos. Talvez por esse motivo, pelo
período conturbado de 1975, pela consciencialização posterior e normalidade,
relativamente recente, e, também pela separação natural e forçada do «trigo do
joio», novos valores de ambos os sexos e bastante válidos, estão despontando
para o regionalismo da nossa terra.
Assim,
com outras concepções regionalistas, novas ideias, novas limitações, outras
gerações de dirigentes melhor ou pior (como em todos os tempos) deram neste
último lustro, apesar de tudo, continuidade à União Progressiva da Freguesia do
Colmeal e dispensaram às suas congéneres da freguesia uma solidariedade e um
pródigo, generoso e inusitado material. Esse apoio material, conforme os
melhoramentos em curso nas respectivas povoações, foi distribuído da seguinte
maneira: Açor, 15 contos; Ádela, 15 contos; Aldeia velha e Casais, 20 contos;
Carvalhal, 25 contos; Malhada e Casais, 15 contos; Sobral e casais, 15 contos;
e Soito, 15 contos.
A
título de orientação e informação se indica a quantidade de naturais, dessas
mesmas aldeias, associados da União Progressiva da Freguesia do Colmeal: Açor,
13 sócios; Ádela, 10 sócios; Aldeia velha e Casais, 18 sócios; Carvalhal, 24
sócios; Malhada e Casais, 29 sócios; Sobral e casais, 12 sócios; e Soito, 21
sócios.
Embora
superior ao passado o actual número de associados da freguesia, nomeadamente de
algumas povoações, é ridículo. No entanto o que conta é não estarem em jogo o
«Deve» e «Haver», como em qualquer contabilidade, e ainda bem, mas sim o ajudar
a solucionar problemas sociais comuns.
Concluindo:
Ao longo de cinquenta anos de actividade, resumidamente descritos nestes vários
capítulos e com inúmeras falhas como se compreenderá, passaram pelos corpos
directivos e outros órgãos da União Progressiva da Freguesia do Colmeal dezenas
de indivíduos de ambos os sexos, de toda a freguesia, das mais diversas
posições sociais e culturais. Uns analfabetos, outros letrados, outros
doutorados, uns imobilistas, uns teóricos, outros práticos.
Em
qualquer dos casos ou situação, é evidente, em defesa da terra e da freguesia,
tanto em momento eufórico como de crise (verificaram-se várias ao longo de meio
século) sempre os uniu, conforme as conveniências de momento, um denominador
comum: REGIONALISMO!
Conseguiram
eles, na realidade, alcançar o objectivo inicial?
Cada
um que tire as conclusões que entender. No entanto, em nossa opinião não temos
qualquer receio em afirmar: «Se não
foram mais longe foi porque não puderam».
in Boletim “O Colmeal”,
Nº 169 – Janeiro de 1980
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