Com
este título começou o extinto Boletim “O Colmeal” a publicar em Maio de 1980,
já lá vão trinta e cinco anos, uma série de artigos sobre o Regionalismo e a
União Progressiva da Freguesia do Colmeal.
Nunca
é demais recordar e também dar a conhecer aos mais novos o que foi, ou o que é,
actualmente, o movimento regionalista.
«Conveniente
é que se unam, pois unidos e organizados muito mais e melhor podem fazer com
menos esforço». (Alves Caetano, in «Gazeta das Serras», 25-10-1938).
REGIONALISMO
é um movimento com cerca de 60 anos e não tem, nunca teve, qualquer afinidade,
nem de longe nem de perto, com o espanhol, genuinamente político e
independentista em relação ao poder central.
O
movimento regionalista português é tipicamente Beirão, encontrando-se
concentrado na sua grande maioria na comarca de Arganil, isto tomando como base
o número de agremiações existentes.
Como surgiu e porquê o movimento
regionalista?
Tudo nos leva a supor, em função dos
elementos recolhidos ao longo de inúmeros anos, estar a sua origem ligada à
revolta contra o marasmo de todo e qualquer poder político e ao facto da
migração periódica para outras regiões mais desenvolvidas do país, verificada
no século passado e mantida nas primeiras décadas do corrente. A mística muito
característica dos arganilenses, em relação á sua zona e em particular à terra
onde cada um nasceu ou de que é oriundo, terá sido também motivo.
Da migração periódica para o Alentejo,
Ribatejo, Beira Baixa ou Estremadura redundaram, como é lógico, contactos dos
serranos, em muitos casos somente de passagem, com outras povoações onde, por
ventura os naturais já beneficiavam de estradas, fontenários, electricidade,
telefone, médicos, feiras, mercados, ou seja o mínimo dos mínimos a que
qualquer ser humano tinha direito já que todos eram/são filhos da mesma pátria.
Lembre-se que dentro do poder local as
primitivas «Juntas de Parochia», obrigatoriamente presididas pelo pároco,
limitavam-se a cobrar alguns impostos, melhorar, conservar ou ampliar só o que
fazia parte da Igreja, ou interessava à mesma. Posteriormente em 29 de Novembro
de 1908 foram eleitas as primeiras «Juntas de Freguesia». Que progressos
poderiam proporcionar se os seus membros desconheciam o mundo exterior e as
autarquias não tinham fundos nem para selos postais?
Desses contactos migratórios com
outras terras, outras gentes, outras condições de vida, criou-se,
evidentemente, na mente dos iniciadores do movimento regionalista a ambição
lógica de pretenderem para a sua aldeia, para os seus conterrâneos, as mesmas
condições humanas.
Como não podiam contar com o poder
político, nunca muito interessado na evolução da região, isoladamente nada
poderiam fazer, entraram no campo colectivo, começando a surgir, embora
lentamente, por volta de 1920, as primeiras «Comissões de Melhoramentos»,
«Grémios», «Ligas», «Uniões», «Casas», etc., para congregar boas vontades,
debelar o isolamento ancestral das aldeias, mobilizar naturais, diminuir o
imobilismo, denunciar publicamente através da Imprensa o atraso medieval a que
tinha sido votada a região, pressionar, enfim, o poder político.
Embora
tivessem existido em 1907 experiências regionalistas só a partir dos anos vinte
começou a proliferação das agremiações e, automaticamente, do Regionalismo. Os
resultados positivos de uma experiência foram dando lugar a outro ensaio na
aldeia seguinte e assim sucessivamente. O verificado na nossa aldeia é
flagrantíssimo.
Hoje
praticamente em todas as aldeias existe uma agremiação regionalista.
Há 49 anos, mais precisamente em 20 de
Setembro de 1931, foi fundada a União Progressiva da Freguesia do Colmeal.
Em 1981, como tal, comemorará a U. P.
F. C. e, igualmente, o regionalismo colmealense, o seu cinquentenário, as bodas
de ouro.
Para qualquer colectividade, seja qual
for a sua actividade ou historial, meio século de existência é sempre de
considerar. No entanto para uma agremiação regionalista gerada em época difícil
e meio economicamente pobre, por autênticos proletários meio analfabetos é, não
só, data a considerar como a enaltecer. Os ideais dos seus precursores e
fundadores: a) «Conseguir o máximo de solidariedade de todos os naturais da
freguesia do Colmeal»; b) «Concorrer quanto possível para o aperfeiçoamento
moral e social dos seus associados e protegê-los quando necessitem»; c)
«Auxiliar a instrução e dar o seu apoio moral e material a todos os
melhoramentos da freguesia do Colmeal»; d) «Promover por todos os meios ao seu
alcance as manifestações de actividade que de qualquer modo possam contribuir
para o engrandecimento da freguesia». Conseguiu-se? Não se conseguiu? ...
A meta a que se propuseram os
iniciadores do Regionalismo Colmealense, em face das finalidades estatutárias,
foi o desenvolvimento social e cultural de toda uma freguesia atrasada,
encravada, isolada na zona serrana do Distrito de Coimbra.
Como é compreensível os
«melhoramentos» materiais teriam de estar pendentes da «solidariedade» e do
«apoio moral e material» de todos os naturais, sem discriminação, da aldeia
onde nasceram.
Evidentemente
falar de melhoramentos que se concretizaram ou não, falar da freguesia do
Colmeal é, automaticamente e simultaneamente, falar de Regionalismo. Enfim
falar da União, de seu nome imutável e completo União Progressiva da Freguesia
do Colmeal, como consta no seu «registo de nascimento» - citar só o seu título,
é, só por si, evocar uma existência de triunfos, um largo número de obras, nem
sempre da mesma dimensão e utilidade, é certo, mas todas mostrando uma garra e
uma fecundidade nem sempre compreendida, nem sempre apoiada, quantas vezes
mesmo criticada maldosamente com fins inconfessáveis por uns quantos que nunca
fizeram nada em prol do bem comum. Todos beneficiaram de um trabalho
sacrificado e salutar, de várias gerações de dirigentes, esforço quase sempre
ignorado e incompreendido dos seus dirigentes. Estes regionalistas, em geral,
sacrificam-se: dedicam grande parte do seu tempo, da sua vida particular e
profissional para desempenharem eficazmente as suas funções, no sentido do
fomento do progresso, do bem comum.
Apesar
disso não evitam as maledicências.
Falar do Colmeal, do seu Regionalismo
e da União é o que vamos tentar continuar em próximos números.
in Boletim “O Colmeal”,
Nº 162 – Maio de 1980
Arquivos
da União
1 comentário:
Muito interessante, como as atas de há dias e as fotografias que têm sido publicadas.
Não obstante a importância da publicação por este meio, considerando a tendência para a substituição do impresso pelas redes sociais, os blogues e outros formatos que usam a internet como suporte, parece-me que valeria a pena registar em livro - meio mais material e ainda duradouro - a história da União Progressiva da Freguesia do Colmeal (UPFC), que faz parte da história local, da região e do país.
Com órgãos sociais e dirigentes tão empenhados e vocacionados, até já estou a ver e a sentir a atração de um livro volumoso, de formato convidativo e capa macia, a falar-me de situações, pessoas, eventos e melhoramentos. Sem prejuízo, naturalmente, da possibilidade de recurso às fontes. Diria o mesmo em relação a outras coletividades.
Lisete de Matos
Açor,Colmeal.
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