Festejou mais um aniversário a União
Progressiva da Freguesia do Colmeal.
Não podemos deixar passar este facto sem a
nossa referência especial, não só pela grande satisfação que ele nos dá, como
porque esta colectividade tem jus á nossa particular consideração pelo muito
que já tem feito e pelo que se propõe fazer.
Não é sem um cunho de verdadeira sinceridade
que nos mostramos satisfeitos com a sua vitalidade e desejamos os seus
progressos. É que a União Progressiva, embora não tivéssemos concorrido
directamente para a sua organização, é a realização de um sonho que aspirávamos
ver satisfeito.
Sabe o leitor porquê? Conhecedor, e
convivendo há muitos anos – quase sessenta – com a grande colónia colmealense,
lamentávamos vê-la desunida, isto é, dispersa, sem a orientação que a
valorizasse e a tornasse útil a si própria e à sua terra.
Essa união fez-se e teve a organizá-la um
dos mais humildes colmealenses, o qual soube chamar a si elementos de boa
vontade cuja inteligência viu a utilidade da agremiação.
Vimo-los no seu começo e ficámos encantados
com a forma carinhosa e entusiástica como se trabalhava na sua organização.
Nós que tanto desejávamos ver os patrícios
afastados da taberna e dos lugares de onde só prejuízos lhe podem advir, não
podemos deixar de sentir um grande prazer, vendo o nosso desejo a caminho da
sua realização.
Depois de organizada a União, foi-se buscar
alguém que, novo, enérgico e inteligente, soube aproveitar os entusiasmos da
primeira hora, dando à agremiação um impulso que lhe imprimiu vida pelos
efeitos produzidos e pelo valor manifestado.
Queremos referir-nos ao Sr. Manuel da Costa,
a quem não podemos deixar de prestar a nossa sincera e muito merecida
homenagem.
Sua Excelência talvez não nos leia, mas o
nosso fim é mostrar àqueles que o desconheçam, a conta em que deve ser tido o
relevante serviço que este ilustre colmealense prestou á sua terra, não só
conseguindo para ela um valioso melhoramento, mas também, firmando e valorizando
a agremiação que muito mais pode e há-de fazer. Bem-haja, e não abandone o
lugar.
Dizia-nos há dias, numa sua carta, um
colmealense que em longes terras labuta para sua sustentação e da sua família,
referindo-se à acção das Comissões de melhoramentos da nossa região:
«Pelo que vejo e tenho lido através da Gazeta
e da Comarca, os povos das serras,
nestes últimos anos, têm sabido cumprir com os seus deveres, unindo-se a fim de
conseguirem melhoramentos para as suas aldeias. – O chafariz do Colmeal, por
exemplo, parecia uma obra irrealizável, devido á má política que se comprazia
em trazer o pobre povo iludido com falsas promessas. Devido á fundação da União
Progressiva, não só se realizou esse tão necessário e desejado melhoramento,
mas foi mais além: já tem um marco fontenário à Cruz da Rua, representando tudo
isto um enorme benefício para a povoação. E a estrada, outra coisa que parecia
não ter solução, está em vias de facto.
- E as pequenas aldeias do concelho da
Pampilhosa, que noutro tempo não eram conhecidas pelos jornais, já dão sinal de
vida, reclamando a sua cota parte no progresso.
- Tudo isso dá satisfação a quem longe da
terra que lhe foi berço moureja».
É assim mesmo. São os que mourejam longe da
sua terra que, maior satisfação sentem em saber os povos da sua região
possuidores de benefícios que lhes tornam mais suave e humana a existência.
A nossa região possui grande número de
agremiações regionais, sendo o concelho de Góis o que hoje as tem em maior e
mais profícua actividade. Seja-nos permitido destacar as do Colmeal, Cadafaz,
Cortes e Amioso Fundeiro, cujos serviços e benefícios já prestados são de muito
apreciável importância.
Enumerá-los seria tarefa agradável, mas
difícil, tantos já eles são.
Sem desprimor para os bons e desinteressados
colaboradores, queremos deixar aqui registados os nomes dos homens que lhes têm
imprimido estímulo, insuflado vida e levado á útil e fecunda produtividade. São
eles os Srs. Manuel da Costa, do Colmeal; Cláudio dos Santos, de Cadafaz,
Manuel Marques, de Cortes e Eugénio Nunes, de Amioso Fundeiro.
Estes homens, tendo a sua vida organizada e
fixada em Lisboa, têm lutado com o maior zelo e carinho em prol das terras a
que estão ligados ou onde nasceram.
Têm muitos e bons colaboradores, mas, nestas
obras, não podem ser dispensados os chamados carolas, sem os quais não é raro ver falhar as melhores intenções e
boas vontades por falta da mola impulsiva.
Devem saber aproveitar-lhes a sua acção
enérgica e bem intencionada, e não lhes negar todo o auxílio, pois, com isso,
só benefícios advirão para o bem comum.
As Câmaras Municipais, auxiliando e
colaborando com tão valiosos elementos, prestarão aos povos seus administrados
grandes melhoramentos sem grande dispêndio para os cofres do Município.
No nosso concelho da Pampilhosa, também já a
acção das comissões de melhoramentos se vai fazendo sentir e alguns benefícios
tem produzido. No entanto, as sedes das freguesias, de onde deveria partir o
estímulo, são as que se conservam alheadas a tão úteis como valiosos elementos
de acção.
A freguesia do Pessegueiro, uma das que
maior número de bons elementos possui, conserva-se indecisa quando tanto e bom
poderia produzir.
É ver o resultado dos apelos que têm sido
feitos para melhoramentos locais: pontes, captação de água, cemitério, etc. Não
tem faltado o seu apoio, espontâneo ou não.
Conveniente é que se unam, pois unidos e
organizados, muito mais e melhor podem fazer com menos esforço.
ALVES CAETANO
in
A Gazeta das Serras, nº 80, 25 de
Outubro de 1938
O Apostolado Cívico pela
Escrita, pág. 456 e 457, Lisboa 2013
Foto
dos Arquivos da UPFC
Nota:
O chafariz do Colmeal, referido no artigo supra, foi a primeira obra da União
Progressiva na sede da freguesia e foi inaugurado em 26 de Setembro de 1937.
Poderá recordar a nota que em 2 de Março de 2008, a propósito desse
acontecimento, inserimos neste blogue, clicando aqui em Cantinho
da Saudade.
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