29 outubro 2010

VINDIMAS

Este ano a produção adivinhava-se farta, e o calor do Verão amadureceu as uvas mais cedo. Tão cedo que começaram a ser apanhadas quando ainda decorria, no Canal 1 da Televisão Pública, a “Festa das Vindimas”, um conjunto de programas que mostrou várias explorações vitivinícolas. Vi esses programas muito parcialmente e até os considerei repetitivos e um pouco turísticos. Apesar disso, permitiram-me confirmar a pujança da produção vinhateira no país, situação que já intuía, através da simples observação da variedade de marcas e da própria apresentação das garrafas que enchem as prateleiras dos supermercados e os olhos do consumidor. Foram enunciados problemas, mas foi visível tratar-se de um sector de actividade que tem apostado na inovação e na qualidade, investindo em competência e modernização tecnológica, em “marketing” e na diversificação dos mercados e produtos. Tudo para se ajustar e competir no seio da concorrência nacional e internacional, que a conjuntura de crise económica agrava.
Entretanto, por aqui, terra pequena da serra, as videiras continuam a ocupar apenas as pontas das paredes, onde inicialmente foram plantadas para não roubarem terreno ao milho que constituía a base da alimentação. Muitas datam de infâncias longínquas, e as que já não têm quem lhes cuide dos forcões e varas rastejam tristes pelo chão, dando ainda assim cachos de bago miúdo, mas doce. Todas estavam carregadas este ano.
Na loja, a dorna esperava com a esmagadeira em cima e um degrau à frente para facilitar a tarefa de despejar as uvas directamente dentro da cuba. Despejado um carrego, esmagavam-se logo as uvas, dando à manivela. Contrariamente ao que eu pensava, afinal a maquineta não esmaga as grainhas que confeririam mau sabor ao vinho! Limita-se a soltar os bagos do cardaço, e a amachucá-los levemente.
Apesar da regra “cada um transporta o que apanha”, o Jaime transportou a maior parte da produção. Uma bênção, o Jaime! Mal cheia a primeira dorna, passou-se à segunda, esta já em plástico, uma das poucas inovações presentes!
Testada estabilidade do degrau, a colheita continuou até se encher aquela dorna e, ainda, uma terceira. Em menos de uma semana, a vindima estava feita. Não obstante a lentidão do processo, devido à necessidade de separar, sem os esbagoar, os cachos que cresceram imbricados uns nos outros, de os limpar dos bagos secos, “azarguados” e podres, de aproveitar os que o javali estragadão não abocanhou.
O Amilcar fez a vindima mais tarde, de modo a garantir a excelência da maturação das uvas que potencia a qualidade do vinho. Tranquilamente, pisou-as, deleitando-se com a frescura daquele lava-pés frutado, e contando com umas pernas bem mais esbeltas e saudáveis! Pena que aquela mostoterapia só aconteça uma vez por ano! Com a dorna cheia e o tecto baixo, inicialmente, pisava um pouco dobrado para não bater com a cabeça.
Esquerda, direita, esquerda, direita, até já não se verem bagos inteiros à superfície da massa pastosa e luzidia!
Dois ou três dias depois, o mosto já fervilhava, exalando um aroma avinhado que pairava pela casa toda, à medida que se transformava em vinho. O cardaço foi calcado todos os dias para não secar à superfície.
Quando a efervescência terminou, mais ou menos dez dias depois, o vinho começou a jorrar, impetuoso e tinto, pelo espicho da dorna em madeira e pelas torneiras das dornas em plástico.
Cântaro daqui, cântaro dali, dez litros desta dorna, dez daquela, ao todo contaram-se quinhentos litros. Uma fartura, de um vinho ligeiramente acidulado e de baixo teor alcoólico, mas muito agradável para os apreciadores! Pode-se provar, mas é sabido que carece do frio do Inverno para apurar as suas qualidades.
Distantes do “pequeno que é belo” de E. F. Schumacher [1], afinal, realidades sociais distintas sobrepostas e cruzadas, tempos diversos benfazejos e adversos, coesão social e falta dela, passado e futuro presente e ausente… Açor, Colmeal, 16 de Outubro de 2010. Lisete de Matos .
[1] E. F. Schumacher foi um conceituado economista inglês. Nos anos setenta, perante a emergência da globalização e a crise energética que então se verificou, o economista defendeu a necessidade da alteração dos modelos económicos ocidentais, de cuja sustentabilidade duvidava (Imagine-se, já então!), propondo, entre outras medidas, “o pequeno dentro do grande”, uma via para a descentralização e a desconcentração. A perspectiva do autor é visível no próprio título da obra a que me estou a referir: “O Pequeno é belo ou a Economia como se as Pessoas importassem” ou, mais apropriadamente, Small Is Beautiful: Economics As If People Mattered, Blond & Briggs, 1973.

24 outubro 2010

A NOSSA IGREJA (DO COLMEAL)

Entrou recentemente em obras merecidas. Primeiro, apresentava-se esventrada, mostrando nuas as vetustas paredes que a fazem. Assim despidas do reboco que as cobria, eram visíveis as marcas de intervenções anteriores e o xisto mole ou ferrenho que situa essas intervenções em épocas de maior ou menor disponibilidade económica.
O sol penetrava no seu interior, e dele avistava-se uma nesga grande de céu luminoso. Olhando-o, imaginei felizes os actuais obreiros da restauração e os que, no passado, se esforçaram pela renovação do espaço e, sobretudo, da fé que ele acolhe e simboliza. Pensei em Fernando Costa que tanto se interessou pela história e património da igreja da sua terra. Pensei depois em muitas outras pessoas. Vi-as na pia baptismal, que continua lá, a adoptar a fé cristã trazidas pelos pais; a rezar fervorosas aos domingos e dias santos; a prometerem-se ajuda mútua e respeito para sempre; a dizerem (a)Deus. Até me vi a mim própria, envergando um vestido amarelo com pregas de que gostava muito, a olhar assustada para os anjos que encimavam os altares laterais ou a namorar deslumbrada as muitas figurinhas que faziam do Presépio um fascínio. Vi-me, ainda, em outras situações, e lágrimas teimosas afloraram-me aos olhos. Desejei, então, que a igreja se reerga rapidamente, para continuar o seu papel de regaço e factor de espiritualidade e fé para uns, de memória, coesão social e identidade para outros. A igreja e a Igreja!
Dias depois, já se encontrava em franca recuperação. Parecia um milagre, mas era o resultado do labor, do saber e do empenho dos artífices da reconstrução. Diria o poeta: “Não são de pedras estas casas mas de mãos (…). As mãos que vês nas coisas transformadas” (Manuel Alegre, O Canto e as Armas, 1967). Uma admiração: a sabedoria, o saber e o saber-fazer! Lisete de Matos Açor (Colmeal), 12 de Outubro de 2010.

22 outubro 2010

VIII Torneio de Malha Inter-Colectividades

A União Progressiva da Freguesia do Colmeal teve uma vez mais a honra de ser convidada para participar com duas equipas no VIII Torneio de Malha Inter-Colectividades, que vai ter lugar em Góis no próximo dia 1 de Novembro. Como vem sendo hábito, este Torneio encontra-se integrado na Feira dos Santos e do Mel.

20 outubro 2010

COLMEAL – Magusto da União

A União Progressiva da Freguesia do Colmeal vai realizar no próximo dia 31 de Outubro, pelas 16 horas, no largo D. Josefa das Neves Alves Caetano o seu tradicional magusto.
Não faltarão as castanhas nem os torresmos bem apaladados. A jeropiga e a água-pé, sempre de boa qualidade e muito apreciadas, ajudarão a empurrar uma ou outra castanha mais renitente.
Os dirigentes da União no Colmeal têm desenvolvido esforços para que tudo venha a decorrer da melhor maneira e confiam que o pacto que de anos anteriores vêm mantendo com São Pedro possa garantir mais uma vez estabilidade no tempo para a tarde de domingo.
Sendo um fim-de-semana prolongado com um feriado à segunda-feira esperamos que muitos Colmealenses e associados nos venham fazer companhia e ajudem a manter viva esta tradição.
Esperamos por si! As castanhas também!
E sabe que as senhoras do Colmeal que costumam fazer todos aqueles bolos e doces maravilhosos também os vão fazer desta vez?
Então não falte porque a sua presença é fundamental!
UPFC

17 outubro 2010

Flores da Madeira... para si

Para si que não teve possibilidade de nos acompanhar, trouxemos estas flores... só para si. Fotos de A. Domingos Santos

A União foi à ilha da Madeira (I)

Tudo começou assim. Na noite de 1 de Outubro, no Terminal 2 do Aeroporto de Lisboa, embarcaram os primeiros vinte e nove participantes de um total de oitenta e três pela necessidade de desdobrar o grupo face à anulação do voo inicialmente programado e à limitação do avião, mais pequeno do que o previsto. Os restantes 54 embarcaram na manhã do dia seguinte rumo ao Funchal, capital da ilha e que é cidade desde 21 de Agosto de 1508. O mais importante centro comercial, turístico e cultural de todo o arquipélago da Madeira.
Chegados ao Hotel Suites Jardins d’Ajuda todo o grupo se reuniu para almoço, após o qual se partiu para o “trabalho duro” que os esperava – visitar a bonita ilha da Madeira. Oficialmente designada por Região Autónoma da Madeira é um arquipélago constituído pelas ilhas da Madeira e Porto Santo e pelos ilhéus não habitados das Desertas e das Selvagens. De origem vulcânica e de relevo muito acidentado, os vales são apertados, os declives muito acentuados e com regimes hídricos torrenciais (quem não se lembra de 20 de Fevereiro último?). O clima é caracterizado por grande regularidade térmica durante todo o ano, sobretudo próximo do nível do mar. Arquipélago dotado de autonomia política e administrativa tem o estatuto de região ultraperiférica do território da União Europeia. A ilha da Madeira foi descoberta primeiro pelos Romanos e mais tarde redescoberta pelos portugueses, João Gonçalves Zarco e Bartolomeu Perestrelo em 1419. O povoamento da ilha começou cerca de 1425
Iniciou-se a visita pelo Pico dos Barcelos, onde do seu miradouro qual autêntica varanda, situado a 335 metros de altitude se desfruta de uma paisagem ímpar sobre a cidade do Funchal e todo o seu anfiteatro. O Pico dos Barcelos, situado na freguesia de Santo António, é um dos sítios do Funchal que merece uma visita, quando se quer conhecer a capital madeirense. Também permite uma vista para as zonas altas de Santo António e São Roque e ainda para o Cabo Girão, já no concelho vizinho, Câmara de Lobos. Além de ser muito povoado, tem um miradouro que atrai diariamente centenas de turistas que procuram captar a melhor fotografia da baía do Funchal. É muito procurado na noite de fim de ano para quem pretende assistir ao espectáculo pirotécnico.
Seguiu-se a Eira do Serrado a 1095m de altitude, um miradouro por excelência, pela sua localização privilegiada. Depois de atravessada uma paisagem massacrada pelos fogos devastadores de Agosto tivemos uma espectacular panorâmica sobre o Curral das Freiras que parece a cratera de um vulcão mas que não é mais do que a bacia de recepção da ribeira dos Socorridos. Uma das zonas mais pitorescas da ilha e um dos poucos locais que não é visível do mar. A sua forma deve-se à forte capacidade erosiva das águas torrenciais sobre rochas com diferentes resistências durante milhões de anos. O Curral das Freiras começou a ser habitado na primeira metade do século XV e para estas terras isoladas por abismos e denso arvoredo vieram escravos fugidos das terras do Sul da ilha e criminosos que se escapavam das malhas da justiça. Aqui se esconderam as freiras do Convento de Santa Clara para fugirem dos ataques dos piratas e corsários que assolavam a Madeira no século XVI.
Esta vila, pertencente ao concelho de Câmara de Lobos, esteve sempre muito isolada até ao ano de 1959, quando se construiu a estrada que descemos e nos permitiu ir saborear o delicioso Bolo de Mel e fazer a prova de Ginja do Curral. Os associados Maria Clara Loureiro e o Fernando de Jesus Martins (aqui numa “freira mais malandreca…) foram dos muitos que quiseram “vestir” o hábito para a fotografia.
Colmeal. Também aqui encontrámos um Colmeal mas não o “nosso”. Fajã Escura, Pico Furão, Colmeal e Fajã dos Cardos são pequenos aglomerados ligados por uma estrada que corre paralelamente à linha de água por entre campos hortícolas, castanheiros, vimeiros e algumas vinhas. Duzentos metros abaixo do nível a que se encontra a sede de freguesia, vive quase metade da população do Curral. Lombo Chão, Seara Velha, Balseiras, Terra Chã e Capela são pequenos aglomerados onde se concentra a população do Curral de Baixo. Apertadas entre as rochas talhadas a pique, estas gentes padecem ainda hoje das marcas de um isolamento que a televisão não conseguiu dissipar. No Curral das Freiras não há indústrias, pelo que a população se dedica sobretudo à agricultura, nomeadamente à horticultura. Contudo, a produção agrícola mais típica é a da castanha, seguindo-se a da ginja, o que fez ultimamente surgir alguma produção com características artesanais de licores preparados com base nestes produtos.
Pormenor do interior da igreja matriz de Curral das Freiras, única edificação religiosa existente, construída em princípios do século XIX. Havia em tempos uma capela em honra de Santo António, construída por volta de 1644 e que se perdeu. Entre 1916/18 a igreja sofreu importantes obras tendo sido construídos os altares laterais em honra da Senhora do Livramento e do Sagrado Coração de Jesus. Na mesma altura é também construído o altar-mor da igreja.
Regressados ao hotel e após breve descanso seguiu-se o jantar. No final alguém ficou surpreendido quando se começaram a cantar os “parabéns a você” e surgiu um lindo bolo com as velas para apagar. A aniversariante Maria Manuela Almeida Guerra ladeada pelos nossos dirigentes António Santos Almeida e António Domingos Santos não queria acreditar no que via e dificilmente conseguia esconder a sua emoção. Sendo da povoação da Lomba, do vizinho concelho de Arganil, tomara conhecimento desta nossa excursão através da imprensa regional – Jornal de Arganil, onde normalmente acompanha as actividades da União Progressiva. O marido e mais quatro familiares acompanharam-na nesta “descoberta” à bonita ilha da Madeira. O primeiro dia estava a terminar. Havia que descansar pois mais “trabalho duro” nos esperava para a etapa seguinte.
Fotos de A. Domingos Santos

08 outubro 2010

Rio Ceira

Uma maravilha. Um excelente cartão de visita do concelho. Foi em Góis, no Cerejal, no passado domingo 26 de Setembro. Foto de A. Domingos Santos

Clube de Contadores de Histórias (XX)

A Gata e o Sábio
O sábio de Bechmezzinn (aldeia situada no norte do Líbano) era muito rico. Dedicava o melhor do seu tempo ao estudo e a tratar os doentes que o procuravam. A sua fortuna permitia-lhe socorrer os infelizes e toda a gente dizia que ele era a dedicação em pessoa. Homem piedoso e recto, a injustiça revoltava-o. Muitas pessoas vinham consultá-lo quando tinham alguma divergência com vizinhos ou parentes. O sábio dava os melhores conselhos e desempenhava frequentemente o papel de mediador. Tinha uma gata a quem se dedicava particularmente. Todos os dias, depois da sesta, ela miava para chamar o dono. O sábio acariciava-a e levava-a para o jardim, onde ambos passeavam até ao pôr-do-sol. Ela era a sua única confidente, diziam os criados. A gata dirigia-se muitas vezes à cozinha, onde era bem recebida. O cozinheiro não escondia nem a carne nem o peixe, porque ela nada roubava, fosse cru ou cozinhado, contentando-se com o que lhe davam. Ora, uma tarde, depois do passeio diário, a gata roubou furtivamente um pedaço de carne de uma panela. Tendo-a surpreendido, o cozinheiro castigou-a puxando-lhe severamente as orelhas. Vexada, a gata fugiu e não apareceu mais durante todo o serão. Intrigado, o sábio perguntou por ela na manhã seguinte. O cozinheiro contou-lhe o que se passara. O sábio saiu para o jardim e durante muito tempo chamou a gata, que acabou por aparecer. — Porque roubaste a carne? — perguntou o sábio. — O cozinheiro não te dá comida que chegue? A gata, que tinha parido sem que ninguém soubesse, afastou-se sem responder e voltou seguida de três lindos gatinhos. Depois, fugiu e trepou à figueira do jardim. O sábio pegou nos três gatinhos e entregou-os ao cozinheiro que, ao vê-los, mostrou uma grande admiração. — A gata não roubou comida a pensar nela. — declarou o sábio. — O seu gesto foi ditado pela necessidade. Portanto, não é de condenar. Para alimentar os filhos, qualquer ser, mesmo mais frágil do que um mosquito, roubaria um pedaço de carne nas barbas de um leão. A gata limitou-se a seguir o que lhe ditava o seu amor maternal. A conduta dela nada tem de repreensível. O pobre animal está a sofrer por a teres castigado injustamente. Fugiu para a figueira porque está zangada contigo. Deves ir lá pedir-lhe desculpa, para que se acalme e tudo volte ao normal. O cozinheiro concordou. Tirou o turbante, dirigiu-se à figueira e pediu perdão ao animal. Mas a gata virou a cabeça. O sábio teve de intervir. Conversou longamente com ela e lá conseguiu convencê-la a descer da árvore. A gata desceu lentamente da figueira, veio a miar roçar-se nas pernas do sábio e foi para junto dos seus três filhotes.
Tradução e adaptação Jean Muzi 16 Contes du monde arabe Paris, Castor Poche-Flamarion, 1998 adaptado
O Clube de Contadores de Histórias
Biblioteca da Escola Secundária Daniel Faria - Baltar

Arqueologia do Concelho de Gois

.
CASA DO CONCELHO DE GÓIS - Conselho Regional - Arqueologia do Concelho de Góis Guardar o Passado Olhando o Futuro
16 de Outubro de 2010 15:00 Programa 15H00 - Abertura 15H15 - Património Cultural no Município de Góis (Dr.ª Ana Sá) 15H45 - Debate 16H00 - Um olhar diferente sobre o concelho e/ou a região de Góis (Mestre João Simões) 16H30 - Debate 16H45 - Uma perspectiva sobre a transmissão da herança arqueológica: O caso de Góis (Dr.ª Helena Moura) 17H15 - Debate 17H30 - Encerramento
Casa do Concelho de Góis Rua de Santa Marta, nº 47, r/c Dtº 1150-293 LISBOA Tel: 213 545 051 e-mail: casacgois@gmail.com