13 junho 2010

Clube de Contadores de Histórias (XIX)

Não tem escolha
A ele não valia a pena perguntarem-lhe o que queria ser quando fosse grande. A resposta, quisesse ele ou não quisesse, só podia ser uma: — Rei. Tinha de ser. Pois se ele era príncipe, filho único de um senhor rei, que outra coisa, profissão ou destino podia caber nos seus projectos de futuro? Pensando nisto, o príncipe, que não tinha vontade nenhuma de ocupar o trono dos seus antepassados, entristecia. Uma vez, ouvira o jardineiro dos jardins reais queixar-se: — O meu filho, que eu gostava tanto que fosse jardineiro como eu, diz que não tem vocação para a jardinagem. Se ele dissesse o mesmo (isto é, o equivalente!), o que é que aconteceria? Encheu-se de coragem e disse. O rei, que era um homem compreensivo, respondeu-lhe: — Meu filho, eu, quando tinha a tua idade, queria ser arquitecto, mas o teu avô deixou- me esta obrigação, o que havia eu de fazer? Por sinal que era um rei muito dado a construções. Se queriam vê-lo feliz, mostrassem- lhe projectos de obras públicas, hospitais, escolas, novas cidades. O rei ficava encantado, dava opiniões, discutia com os arquitectos e os engenheiros como se fosse um deles. — Se não tivesses de ser rei, o que é que gostarias de ser, quando fosses crescido? — perguntou o rei ao príncipe. — Gostava de ser veterinário — respondeu o príncipe. — Não vai ser fácil. Um rei veterinário não é muito comum. Há casos de reis-soldados, de reis-marinheiros, de reis-músicos, mas de reis-veterinários não tenho ideia. No entanto, vou pensar no assunto. Era um bom pai e um bom rei. Em segredo, começou a projectar um grande jardim zoológico. Desenhou tudo muito bem desenhado, como se fosse um arquitecto. Quando tinha a obra toda projectada, estendeu os rolos dos projectos diante dos olhos do filho e disse-lhe: — Ficam ao teu cuidado, para que tu construas o jardim, quando fores rei. — Mas o pai podia mandar construir agora — disse o príncipe. — Quero que fique à tua responsabilidade. Quando eu morrer, deixo-te o reino e estes projectos, para que te ocupes deles. Assim sucedeu. O príncipe tornou-se rei. Não tinha alternativa. Uma vez coroado, dedicou-se com entusiasmo aos trabalhos de governação. Mas com mais entusiasmo se dedicou a levantar o jardim zoológico, que, uma vez pronto, maravilhou o mundo. Ao jardim deu o nome do senhor rei seu pai, que tinha querido ser arquitecto.
António Torrado www.historiadodia.pt Adaptação
O Clube de Contadores de Histórias Biblioteca da Escola Secundária Daniel Faria - Baltar

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