06 janeiro 2010

Folhas Soltas de Cadafaz

. Cadafaz e Colmeal têm percorrido juntos os caminhos longínquos da sua identidade. Segundo a valiosa obra e descrição de conceituados historiadores acerca da história do concelho de Góis, verificamos que, pelo menos nas Inquirições de D. Dinis já era referido Cadafaz e Colmeal como sendo povoadas no tempo de D. Sancho (1185-1211). No Foral não Régio de Gonçalo Vasques (7º Senhor de Góis 1314), menciona-se Colmeal com quatro casais e Cadafaz com oito, aos quais se atribuíam os deveres do foro, continuando mencionadas no Foral Régio do rei D. Manuel, no Cadastro do Reino na elevação a freguesias e no reconhecimento dos Padroados já com os respectivos oragos e restantes bens das paróquias etc. Claro que com o decorrer dos séculos muita coisa mudou, no entanto parece ter havido sempre um elo de ligação entre as duas freguesias nos vários serviços quer pessoais, religiosos ou comunitários. O serviço postal, ou seja, o transporte das malas do correio foi feito durante décadas (1916) pelos condutores de malas de Cadafaz entre Góis-Cadafaz-Colmeal e vice-versa diariamente e aqui recordarei José Simões Paulo, Guilherme Simões Paula e outros, que bem merecem o nosso eterno reconhecimento pela sua dedicação, missão tão exaustiva e tão mal renumerada. A ligação de telefone, também durante alguns anos era feita do P.C.T.F. de Cadafaz para Colmeal. O mesmo se passava em relação aos serviços religiosos, sendo as duas paróquias assistidas pelo mesmo pároco, quase diariamente tal era a assiduidade no cumprimento dos serviços da Igreja. Mas um dos grandes impactos de ligação, foi sem dúvida o regionalismo com a criação das colectividades, a interligação entre os seus fundadores quer do Colmeal ou Cadafaz defendiam as mesmas aspirações e ideias, melhorar a forma de vida das suas comunidades e aldeias onde nasceram. Foi de uma forma bastante gratificante que o empenho no desenvolvimento foi conseguido por Homens de grande valor e eficácia. É certo que eles foram partindo mas os seus “Marcos” ficaram e com eles o grande significado para quem os sabe reconhecer e honrar aliás, creio que a melhor forma de reconhecimento é a continuidade do seu trabalho. Felizmente ainda alguém cumpre com esses objectivos, pelo que irei referir um artigo recentemente publicado nos Jornais de Arganil e Varzeense, pelo Sr. Dr. António Domingos Santos, presidente da União Progressiva da Freguesia do Colmeal, artigo esse que insere um documento antigo e fotos referentes à sua colectividade e à então Liga de Melhoramentos da Freguesia do Cadafaz, dando aos Cadafazenses o privilégio de tomarem conhecimento de um artigo certamente desconhecidos para muitos. E por tal facto, é com o devido respeito e agradecimento aos seus autores que o passarei a transcrever. Publicado “NO REGIÃO DAS BEIRAS” em 20-4-1943. Número único dedicado à Região das Beiras e Agremiações regionalistas Beirãs na Capital, Director e Editor Joaquim Dias Pereira”. Liga de Melhoramentos da Freguesia do Cadafaz – Cláudio dos Santos, Presidente António Augusto Silva, Tesoureiro – José Gaspar Nunes e José Nunes Ribeiro, Secretários. “A Liga de Melhoramentos da Freguesia do Cadafaz é uma das agremiações regionalistas beiroãs que melhor se tem integrado no cumprimento das suas altruístas finalidades. Cláudio dos Santos, seu presidente da direcção desde a primeira gerência, tem orientado os destinos deste organismo com muita competência e de molde a impor a sua Liga à consideração dos altos poderes do Estado. Uma das actividades mais interessantes que esta colectividade tem realizado, foi uma das excursões ao Cadafaz e na qual tomamos parte. Todos os Anos tem também realizado o seu tradicional almoço de confraternização, de notável efeito moral e para a aproximação colectiva de todos os Cadafazenes, pois é esse dia por assim dizer de grande gala para a colónia da freguesia do Cadafaz em Lisboa. Também em tempos foi editado um número especial do Jornal de Arganil a esta Liga, por iniciativa do saudoso Cadafazense António Nunes Carneiro a cuja memória aqui deixamos patente o preito da nossa sentida homenagem e a nossa inacersível saudade. De resto todos os melhoramentos, e alguns por sinal muito importantes, com os quais a Freguesia de Cadafaz tem sido beneficiada nesta última década, à sua Liga os deve, se bem que a comparticipação do Estado não tenha falhado – comparticipação essa - que não viria sem a solicitação deste organismo. Tudo quanto se diga, portanto, em louvor da Liga de Melhoramentos da Freguesia do Cadafaz e dos seus dirigentes, não é demasiado nem descabido, mas sim um acto de justiça a que não podíamos faltar traçando estas linhas. Falha-nos aqui a memória para aqui mencionarmos todos os paladinos desta Liga aos quais em outro local não fazemos referência, mas entre outros é justo destacar os Srs. Armando Ribeiro e Carlos Vidal” Como se pode verificar não há dúvida do bom relacionamento que existia, não só entre as colectividades como com outras entidades. O que nos parece hoje não ser bem o caso com a actual União Recreativa de Cadafaz, onde se nota um nítido afastamento em relação aos deveres representativos inclusive reuniões, assembleias gerais, relatórios de contas, cobrança de quotas etc. É certo que vão surgindo de vez em quando títulos inovadores referentes à mesma até com obras feitas. No entanto isso não deve esquecer os deveres da cooperação comunitária e regionalista segundo os estatutos da mesma. Além disso não se verifica ou prevê ensejo ou corrente de entusiasmo de ajuda aos nossos jovens como continuadores. Lamento se irei interferir em ânimos susceptíveis, mas Cadafaz tem de relembrar que ainda há vida na sua sede de Freguesia e pessoas com direito a ser participativas e cooperativas em assuntos que a todos diz respeito, inclusivamente incentivar a comunidade Cadafazense que se encontra em Lisboa e noutros locais e não esquecerem a sua aldeia.
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A. Silva

in Jornal de Arganil, de 31 de Dezembro de 2009

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