12 outubro 2009

Freguesia do Colmeal (História) VII

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PASSADO – PRESENTE Capítulo VII
Como se viveu na freguesia nos séculos XIII a XVII (1) As casas eram térreas, construídas de xisto e com tecto de colmo, todas as proporções modestas, com uma única divisão que servia ao mesmo tempo de cozinha e dormitório. A cama, feita de palha ou fetos secos, no chão e a um dos cantos da habitação. Pratos, garfos e colheres eram desconhecidos. Comia-se com a mão e do próprio recipiente onde era feita a refeição que normalmente se baseava em papas, água ou vinho, pois que além destes não se conheciam outros líquidos. Vestia-se saio – espécie de vestido com mangas compridas – feito de linho bastante grosseiro. Na cabeça usavam capuz ou capucha do mesmo tecido que os próprios fabricavam. Por norma andavam descalços e só quando iam para longas jornadas usavam sandálias com correias, fabricadas rudimentarmente de peles que curtiam. Cultivavam o linho, de cujo caule retiravam a fibra para os tecidos. Das sementes desta planta extraíam o óleo de linhaça para sedativos e emplastros. Além da pastorícia, actividade principal, explorava-se a agricultura, caso dos cereais, como o trigo, centeio e milho painço (2), vinho e azeite. O mel, também explorado (3), é usado quase unicamente como remédio para as várias doenças. Os outros alimentos são o peixe do rio e ribeiras, carne de animais domésticos e selvagens que então existiam nas florestas da região, tais como o gamo, veado e javali, mas aos quais deviam ter um certo receio por falta de armas aptas para a caça. O aquecimento das casas só é possível graças à lenha. Para iluminação utilizam candeias alimentadas a sebo. Vias de comunicação não havia, e as margens do rio Ceira eram atravessadas por pontões feitos de troncos de árvores (4). Correio não existia, e quem na maioria dos casos levava as mensagens, eram os Almocreves (5) que forneciam as mercadorias necessárias à vida recebendo em troca castanhas ou peças de olaria (6). Como religião praticava-se o catolicismo. Entretanto procede-se à construção de uma pequena capela (7) que, tal como as habitações é em xisto, coberta de colmo e de proporções modestíssimas tendo sido dedicada a Sam Sebastião (8). Os defuntos eram transportados para Selaviza, cujo percurso era feito em duas jornadas, sendo a primeira até Soveral (9). Esta foi sensivelmente a vida da nossa freguesia até ao século XVII. As vias de comunicação eram caminhos carreteiros (10). A partir desta altura, o milho de maçaroca, até então desconhecido, tal como a batata e o feijão, tomaram o seu lugar na agricultura. No século imediato, foram construídas no Colmial, novas habitações ao Porral, já cobertas com loisas, com dois pisos, sendo o superior assoalhado. As lojas que continuavam térreas, eram agora utilizadas como curral para animais e para armazenar as colheitas dos cereais. Nesta época o homem já utilizava calções até ao joelho que, tal como o saio ainda usado pela mulher, era de linho grosseiro e fabrico de casa. (1) Seguiram-se os costumes e condições gerais do país, nesse tempo. (2) Ainda se cultiva para o fabrico de vassouras. (3) É possível que tenham sido os mouros os nossos primeiros apicultores, atendendo à sua crença. O mel para o Árabe é o que de mais belo existe, e significa a magnificência do Paraíso. Segundo a sua fé, os justos a seguir à ressurreição deliciam-se com mel no Paraíso, onde também colocam as abelhas, uma vez que para o Maometano, não há Paraíso sem mel nem mel sem Paraíso. Este um dos códigos do Islão. Os mouros foram expulsos das Beiras, em meados do século XI, por Fernando Magno. (4) De fabrico mais actualizado, ainda são imprescindíveis em quase todo o vale do Ceira. (5) Do Árabe Almukãri. Homem que tem por ofício transportar mercadoria em bestas de carga. (6) Ler Capítulo V. (7) Ficava situada, sensivelmente ao centro da actual Igreja, tomando como base que o local formava cabeço, pela não existência dos muros de suporte, construídos no século XIX, nos sentidos nascente – norte, poente – sul. (8) Adoptou-se a ortografia da época o mesmo sucedendo em relação a Celaviza, Sobral e Colmeal. (9) Este martírio só terminou quando da construção da Igreja Matriz, onde se passaram a sepultar os defuntos. (10) Ainda no presente, as vias de comunicação com Açor, Ádela, Loural, Sobral, Salgado e Saião; e do Soito a Foz da Cova, Carrimá e Malhada, e bem assim com a própria sede concelhia, isto é até a Capelo, são as mesmas que nos foram legadas por estes nossos antepassados. In Boletim “O Colmeal” Nº 107, Novembro de 1970

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