07 setembro 2009

Coisas de antigamente

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Cirurgião do Açor
Antigamente, pouco depois das invasões francesas, viveu no Açor um moço pastor de gado que veio a ser homem grande na cirurgia portuguesa. Chamava-se António de Almeida Freire, e o seu busto de homem de ciência esteve, durante muito tempo, exposto na Escola de Medicina Legal de Lisboa. O encaminhamento da sua vida ficou a dever-se a gado e a lobos, a um descuido de rapaz e à severidade dos pais de outros tempos. O Albano e o “ti” Raul do Açor é que contam como foi. O António era pastor de gado, mas um dia esqueceu-se de trancar o curral aos animais. Os lobos deram sobre as cabras, escapando apenas as quatro ou cinco que conseguiram encarrapitar-se no Penedo dos Corvos, onde as feras as deixaram em paz. O pai do António é que não deixou o rapaz em sossego e preparava-se para lhe dar o castigo competente (diz o “ti” Raul que, nesse tempo, os pais não eram como os de agora!), encontrando o moço salvação nos bons tamancos brochados. A pé, fugiu para Lisboa, onde se empregou em serviços de limpeza nos hospitais civis. Tinha então quinze anos. A pouco e pouco, aproveitando o tempo em estudo e observação, acabou por ser mestre em cirurgia, creditando-se nesse mister em alto grau. Veio a casar no Caratão da Teixeira, freguesia em que seu filho, também de nome António e pai do Sr. Padre Eduardo, foi barbeiro durante alguns anos. Um irmão seu, que veio a casar no Soito, foi o avô do general Almeida Freire, e foi também barbeiro seu irmão José Antunes de Almeida, o qual, por sua vez, ensinou o filho, António de Almeida Freire, de Colmeal, de que muita gente na freguesia e nos arredores tem ainda boa e grata recordação. O ofício de barbeiro era, na altura, como talvez a gente mais nova desconhece, um pouco mais complicado do que o dos barbeiros de hoje. Além de tratar das barbas aos varões, o barbeiro era o entendido na medicina e na cirurgia, a quem os doentes recorriam para combaterem seus achaques. Muitos deles, como o Sr. Almeida, do Colmeal, não se limitavam a serem peritos de medicina caseira; a intuição e a prática conferiam-lhes uma autoridade que não raramente era reconhecida pelos médicos e uma competência que levava os encartados a pedirem-lhes conselho e colaboração. In Boletim “O Colmeal” Nº 133 – Jan. – Março de 1976 Arquivo da UPFC Lisete de Matos, dirigente da Associação Amigos do Açor, reeditou em Maio de 2008, por ocasião da realização da caminhada “Trilhos da Ribeira de Ádela – Caminhos da Escola”, uma pequena brochura em que homenageia António d’Almeida Freire, para além de Fernando Costa. Na sua pesquisa sobre Almeida Freire, Lisete de Matos escreve “Com sacrifícios e privações, algumas frustrações e esperanças, fez em 31 de Maio de 1842, segundo «Despacho do Conselho de Saúde Publica do Reyno», os «exames dos 1º, 2º, 3º e 4º anos», dos diferentes «curços da Escola Médica Cyrurgica de Lisboa», sendo com louvor aprovado por unanimidade. A. Domingos Santos

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